quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Ir ao psicólogo não é como conversar com um amigo

Sabemos bem a função de um bom amigo: ele nos ouve falar das felicidades/tristezas e compartilha das mesmas, dá conselhos, julga nossas escolhas, interfere em algumas de nossas ações e, às vezes, até se responsabiliza conosco por algumas delas. Vive-se com um amigo momentos que poderão estar para sempre em nossas memórias e corações, para o bem ou para o mal. Amigos nos conhecem mais que qualquer outra pessoa e nós também os conhecemos, frequentamos suas casas e intimidades.
Mas um bom amigo jamais será como um bom psicólogo, apesar do público leigo considerar que são semelhantes em alguns pontos para, assim, conseguir uma boa desculpa para evitar a terapia.
Algumas pessoas costumam desmerecer o trabalho do profissional de Psicologia dizendo que não há motivos para fazer terapia, quando não farão lá nada além de conversar com o psicólogo e que isso podemos fazer com qualquer um. Porém, não é bem assim que o trabalho deste profissional se desenvolve. Aliás, falar com um psicólogo não é o mesmo que conversar com uma pessoa qualquer, mas este é um tema para outra hora...
O fato é que o psicólogo é diferente de um amigo porque ele não somente ouve, como escuta nossas felicidades e tristezas (mais as tristezas, porque quase ninguém vai a terapia para falar das coisas boas da vida). Ele não dá conselhos, nem, necessariamente, mostra caminhos - esta é uma sensação do sujeito em análise -, mas nos leva a refletir sobre nossos padrões e repetições, sobre aquilo de nós que há no outro e nossas maneiras de obter satisfação pela vida. Esse profissional também não se responsabilizará pelas decisões do paciente, pois estas só podem ser tomadas por ele e, aliás, submeter-se a uma jornada de terapia é, também, aprender a responsabilizar-se por si e por seus atos e desejos. 
E, apesar de jamais esquecermos a experiência da análise, a relação com o psicólogo é profissional e, por mais estranho que isso pareça, ele sabe muito sobre nós e nós quase nada sabemos sobre ele. Há uma espécie de intimidade, mas não uma amizade entre ambos. Esse limite é importante para o desenvolvimento do processo terapêutico, pois tudo o que é dito na sessão deve girar em torno do paciente e este falará muito mais do que o próprio psicólogo. 
Além disso, há ainda uma diferença primordial entre um amigo e um psicólogo: o segundo preza pela confidencialidade e por uma tentativa de neutralidade. Um profissional de psicologia é regido por um conselho e há um código de ética que precisa ser seguido, o que dá a essa relação terapeuta X paciente maior segurança.
Por fim, vale ressaltar que uma boa amizade é fundamental para a saúde mental, da mesma forma que a terapia também é. Muitas vezes passamos por situações difíceis com as quais não sabemos lidar e precisamos de ajuda profissional para refletir sobre nossos problemas, coisa que não nos torna mais frágeis ou vulneráveis. Na verdade, aventurar-se em uma análise pessoal é um ato de grande coragem... e por mais que tenhamos bons amigos, nem sempre eles são capazes de nos levar a análises profundas que, em determinados momentos, são imprescindíveis.

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